Observação: Escrevi este artigo para a Revista Vitae em novembro de 2021. Por qualquer motivo, em 2023, a revista já não se encontra mais online, então, para não perder o conteúdo e manter meu portfólio (salvo em PDF),postei aqui. Qualquer dúvida, por gentileza, entre em contacto. Boa leitura!

 

Quem aqui adora as borbulhas, levanta a mão!

Eu levanto os braços, as pernas, o corpo inteiro! Adoro essas borbulhas que repinicam a ponta do nariz e enchem o céu da boca de um espumante geladinho e encorpado. Quando harmonizado com a comida, então!, é de saborear e chorará por mais.

Roberta, o assunto de hoje é sobre espumante?

Sim, senhores! Espumante é vida, é felicidade, é celebração, é chique, é seco, meio-seco e doce, é vinho. Mas vocês sabem como surgiu esta bebida ‘glamourosa’?

Champagne ou champanhe?

Fonte: eniwine.com
Primeiro de tudo, Champagne é o nome da província francesa situada no nordeste do país, além de ser o nome do espumante produzido na região com Apelação de Origem Controlada (AOC).

Por isso, engana-se quem pensa que todo espumante é “champanhe”, mas todo Champagne é um espumante. A diferença na grafia é que a pronúncia da palavra de origem francesa tem o som de nh e nada mais é do que a forma ‘aportuguesada’ de escrever, entretanto ambas se referem à mesma palavra.

Então, para não cometer gafes: se o espumante não for da região de Champagne não é champanhe, diga espumante ok?

Como tudo começou…

Fonte: carpemundi.com.br
Para onde os romanos iam, levavam consigo os próprios vinhos, pois além de saberem tudo sobre a produção enológica, o vinho era a bebida do seu dia a dia. E não foi diferente na conquista de Gália, onde surgiram as primeiras grandes adegas em Champagne.

Aliás, isso aconteceu durante o século IV quando os romanos precisavam de pedras para construir Reims e as retiravam do subsolo, deixando-o como um ‘queijo suíço’ pois a constituição rochosa da região era de giz.

Antes que eu me esqueça: Gália era terra celta na Europa Ocidental e que atualmente abrange os territórios da França, partes da Alemanha e Bélgica e norte da Itália.

No início do século XIII, as cavidades desse ‘queijo suíço’ foram aproveitadas pelos monges beneditinos para envelhecer os vinhos onde cavaram passagens e construíram portas entre as adegas pensando na acessibilidade ao local.

Dom Perignón e Veuve Clicquot marcaram a história vínica! Fonte: www.aspectosdovinho.com
Dentre os contributos para a viticultura e a enologia, Dom Pérignon, monge beneditino da Abadia de Hautvillers (produtora de vinhos da região), desenvolveu duas técnicas durante o processo de vinificação:
  • a primeira é a assemblage, ele misturou vários tipos de uvas resultando em vinhos mais equilibrados e aromáticos;
  • a segunda é a blanc de noir, ele descobriu que se as películas das uvas fossem retiradas rapidamente, era possível fazer vinho branco a partir de castas tintas.
Os franceses atribuíram a Dom Pérignon o título de pai do champagne, porque em 1668, ele solucionou um problema com a segunda fermentação do vinho na garrafa: elas explodiam. Calma, eu explico:

Por causa das baixas temperaturas do inverno o processo de fermentação do vinho era interrompido, as leveduras dormiam durante a estação e só acordavam quando as temperaturas subiam, ou seja, a partir da primavera.

Com a ativação da fermentação, o processo era reiniciado e o gás carbônico derivado desse processo transformava o vinho tranquilo em espumante.

Contudo, essa ocorrência ficou desconhecida até o século XVIII, quando Luís XV permitiu que o vinho fosse transportado em garrafas e descobriram que a pressão do gás carbônico fazia com que as garrafas explodissem, de modo que antes das garrafas a fermentação do vinho acontecia em barris e o gás era dissipado.

Dom Pérignon, a fim de solucionar esse grave problema que trazia prejuízos financeiros aos vinicultores, decidiu colocar as garrafas ‘explosivas’ nas adegas subterrâneas de Reims, em Champagne.

Com menos explosões e num ambiente mais adequado para seus vinhos, Pérignon teve a feliz ideia de abrir as garrafas e constatou que o gás carbônico e as bolhas haviam proporcionado um sabor diferente e com isso, uma nova variedade vínica.

Ele ficou tão surpreso que disse a seguinte frase:

“Venham rápido, irmãos! Estou bebendo estrelas!“ – Dom Pérignon.

Ainda assim, devido aos sedimentos da segunda fermentação na garrafa, era uma bebida de aparência feia, turva e por vezes com aromas desagradáveis até que Madame Barbe-Nicole, viúva de François Clicquot, aprimorou a bebida com novas técnicas de vinificação.

Em 1813, Veuve Clicquot junto com seu mestre adegueiro, criaram um método para separar os sedimentos do líquido: a remuage (girar) e o dégorgement (degolar), ou seja, as garrafas ficavam inclinadas com o gargalo para baixo e, em intervalos regulares, giravam as garrafas para que os sedimentos descolassem do fundo e se acumulassem no gargalo.

Após esse processo, o dégorgement era o método de degolar a garrafa para retirar os resíduos e deixar a bebida límpida, transparente e sensorialmente mais refinada.

Essas técnicas fazem parte do método Champenoise, que se refere a produção de champagne, em Champagne. O mesmo processo para a produção de espumante em outras regiões recebe o nome de Método Tradicional.


Fonte: Revista Adega/vinhonosso.com

Curiosidade

Uma curiosidade que vale ressaltar nessa história toda: seis anos antes de Pérignon resolver o problema das garrafas explosivas, o inglês Christopher Merret, pesquisador, primeiro integrante da biblioteca do Royal College of Physicians (RCP) e membro fundador da Royal Society, apresentou um artigo no qual é descrito um método de vinificação de espumante e a segunda fermentação na garrafa.

Assim como champagne é o nome do espumante produzido em Champagne, há nomes específicos para os espumantes de outros países, por exemplo:
Fonte: Grand Cru

Argentina: Espumoso, Brasil e Portugal: Espumante, Estados Unidos: Sparkling Wine, França: Champagne e Crémant, Espanha: Cava, Alemanha: Sekt, e Itália: Prosecco, Franciacorta e Asti.

Além de Dom Pérignon, celebridades também expressaram a paixão pelo champagne:

Fonte: www.aspectosdovinho.com

“As aventuras amorosas começam no Champagne e terminam na camomila” – Valéry Larbaud (1881 – 1957), francês, escritor e poeta que ao viajar pela Península Ibérica, conheceu as literaturas espanhola e portuguesa e dedicou especial atenção a Eça de Queirós.

“Só pessoas sem imaginação não conseguem encontrar um motivo para beber Champagne” – Oscar Wild (1854 – 1900), irlandês, escritor, poeta e um dos dramaturgos mais populares de Londres em 1890. Hoje ele é lembrado por seus epigramas, peças e livros.

Fonte: www.aspectosdovinho.com

“Você pode ter muito Champagne, mas nunca terá o suficiente” – Elmes Rice (1892 –1967), dramaturgo americano conhecido por suas peças The Adding Machine (1923) e Street Scene (1929), drama vencedor do Prêmio Pulitzer da vida residencial de Nova York.

“Disseram que dei vexame bebendo Champagne no sapato de Sophia Loren. Não é verdade. Derramei quase metade porque ela se recusava a tirar o maldito pé do sapato” – Groucho Marx (1890 – 1977), americano, ator e comediante célebre como um dos mestres do humor. Seu currículo apresenta treze filmes, uma carreira bem-sucedida na rádio e na televisão, como por exemplo: You Bet Your Life e Tell It To Groucho.

A Festa do Espumante

Fonte: cm-melgaco.pt

A 7ª edição do evento em Melgaço decorrerá entre os dias 26 e 28 de novembro (esta semana), no Largo do Mercado.

O intuito desta festa é valorizar os espumantes e o terroir da casta Alvarinho, os produtores e produtos regionais, bem como os fumeiros, os queijos, mel, doces tradicionais (entre outros).

No espaço da restauração, os visitantes poderão harmonizar os espumantes com as opções tentadoras dos pratos típicos de Melgaço.

Manuel Moreira, sommelier e wine educator da Revista de Vinhos, estará presente para conduzir as provas comentadas e explorar a versatilidade gastronômica dos espumantes de Alvarinho.

Três conceituados chefs de cozinha estarão no espaço do Show Cooking, apresentando propostas culinárias criativas que incluem produtos locais e regionais. Eles querem surpreender, por isso, não perca a programação:
  • Dia 26/11 às 19:00 – Chef Chakall
  • Dia 27/11 às 15:30 – Chef Luís Américo
  • Dia 28/11 às 15:30 – Chef Vitor Matos
O evento terá muita música ao vivo além de vários DJ’s. A entrada é livre, mas atenção aos horários:
  • Dia 26/11 das 11:00 às 02:00
  • Dia 27/11 das 12:00 às 02:00
  • Dia 28/11 das 12:00 às 18:00
O evento é uma organização do Município de Melgaço, produção da EV – Essência do Vinho e apoio da Revista de Vinhos.

Se ainda estiver na dúvida, recomendo ler o artigo que escrevi sobre as atrações culturais e desportivas espalhadas por Monção e Melgaço, além de conhecer a gastronomia típica, como por exemplo, a Foda à Monção.

Então, bora celebrar a vida?


Fontes de texto e imagens: Aspectos do Vinho, Grand Cru, Associação Brasileira de Enologia, Royal College of Physicians, Eniwine, Carpe Mundi .