Observação: Escrevi este artigo para a Revista Vitae em dezembro de 2021. Por qualquer motivo, em 2023, a revista já não se encontra mais online, então, para não perder o conteúdo e manter meu portfólio (salvo em PDF),postei aqui. Qualquer dúvida, por gentileza, entre em contacto. Boa leitura!


Afinal, como surgiu o Pai Natal?

Hoje eu conto a história do nosso bom velhinho que espera um ano inteiro para dar o ar da sua graça e alegrar o mês de dezembro: o Pai Natal.

Nos próximos artigos vou contar sobre curiosas tradições natalinas pelo mundo e, de acordo com as minhas pesquisas, São Nicolau aparece como parte dessas tradições.

Então, antes de começar a minha viagem pelo mundo, quero contar sobre o homem por trás da história do Pai Natal.

Quem foi São Nicolau?


São Nicolau foi um bispo que viveu em Mira, Ásia Menor, no século IV – hoje esse local é a Turquia. Ele foi um homem com muito dinheiro, herança deixada pelos pais, e de bondade infinita, pois sempre ajudava os necessitados.

Por isso, há muitas lendas sobre São Nicolau, embora não se saiba ao certo quais são verdadeiras. A mais famosa de São Nicolau atribui o início de pendurar as meias para pôr os presentes.

A história diz que…

“Havia um homem pobre que tinha três filhas. O homem era tão pobre que não tinha dinheiro para um dote, então suas filhas não podiam se casar. Uma noite, Nicolau secretamente jogou um saco de ouro pela chaminé para dentro de casa (isso significava que a filha mais velha poderia então se casar). A bolsa caiu em uma meia que havia sido pendurada junto ao fogo para secar! Isso foi repetido mais tarde com a segunda filha. Finalmente, determinado a descobrir a pessoa que lhe dera o dinheiro, o pai se escondeu secretamente perto do fogo todas as noites até que o pegou jogando um saco de ouro. Nicolau implorou ao homem que não contasse a ninguém o que fizera, porque não queria chamar atenção para si mesmo. Mas logo a notícia se espalhou e quando alguém recebia um presente secreto, pensava-se que talvez fosse dele”.

Devido à sua bondade e generosidade, fizeram dele um Santo. São Nicolau é considerado santo das crianças e dos marinheiros, como conta esta outra história:

“Havia uma tempestade forte ao redor dos marinheiros na costa da Turquia e todos eles estavam com medo que o navio afundasse sob as ondas gigantes. Os marinheiros oraram ao santo para ajudá-los. De repente, São Nicolau estava no convés diante deles ordenando que o mar ficasse calmo. A tempestade cessou e eles puderam conduzir o navio em segurança até ao porto”.

As capelas de São Nicolau foram construídas em muitos portos marítimos. À medida que a sua popularidade se espalhou durante a Idade Média, ele tornou-se o santo padroeiro de Puglia e Sicília (Itália), Grécia, Lorraine (França) e de várias cidades na Alemanha, Áustria, Suíça, Rússia, Bélgica e Holanda (entre outros).

Exílio

Por causa do imperador romano Diocleciano, responsável pela mais sangrenta perseguição aos cristãos, o bispo Nicolau sofreu por sua fé, foi exilado e preso. As prisões estavam tão cheias de bispos, padres e diáconos que não havia lugar para os verdadeiros criminosos.

Ele foi libertado e, em 325 d. C., compareceu ao Concílio de Nicéia (primeiro Concílio Ecumênico com a missão de preservar a unidade da igreja que havia sido ameaçada por reivindicações concorrentes sobre a natureza de Jesus Cristo).

6 de dezembro: O Dia de São Nicolau

Seu falecimento ocorreu a 6 de dezembro de 343 d.C. em Mira e foi sepultado na sua igreja catedral, onde uma substância líquida, chamada maná, se formou no seu túmulo.

Essa substância, que supostamente tinha poderes de cura, incentivou o crescimento de mais fiéis ao santo. O dia 6 de dezembro tornou-se o Dia de São Nicolau.


Em 1066, o Rei Guilherme I – O Conquistador, antes de embarcar para a Inglaterra, orou a São Nicolau pedindo que sua conquista corresse bem.

Em 1087, marinheiros italianos roubaram seus ossos de Mira (Turquia) e são mantidos até hoje na Basílica di San Nicola de Bari, construída sobre a cripta de São Nicolau na cidade portuária italiana em Bari.

Desde então, no Dia de São Nicolau, os marinheiros de Bari carregam sua estátua da Catedral para o mar, para que o santo possa abençoar as águas e assim proporcionar-lhes viagens seguras ao longo do ano.


Ele foi tão amplamente reverenciado que milhares de igrejas foram nomeadas em sua homenagem, incluindo 300 na Bélgica, 34 em Roma, 23 na Holanda e mais de 400 em Inglaterra.

Através dos séculos, São Nicolau continuou a ser venerado por católicos e ortodoxos e honrado por protestantes. Por seu exemplo de generosidade para com os necessitados, especialmente as crianças, São Nicolau continua a ser um modelo de vida compassiva.

São Nicolau em Portugal, sim senhores!

Ele também é o padroeiro dos estudantes em Guimarães. Desde 1664, ano em que foi construída a Capela de São Nicolau, há indicativos de que os estudantes, conhecidos como nicolinos, realizavam celebrações festivas em sua homenagem.

Contudo, só em 6 de dezembro de 1691, a Irmandade de São Nicolau foi criada pelos próprios estudantes de Guimarães a fim de regulamentar e aprovar os estatutos de atos públicos em louvor a São Nicolau.

As Festas Nicolinas de Guimarães começam no dia 29 de novembro e terminam a 7 de dezembro. Durante esses dias, ocorrem os Números Nicolinos: a 29/11 – Pinheiro; de 01 a 07/12 – Novenas; 04/12 – Posses e Magusto; 05/12 – Missa de São Nicolau e Pregão; 06/12 – Maçãzinhas e Danças de São Nicolau; e 07/12 – Baile Nicolino. Quem estiver em Guimarães, pode se organizar que ainda dá tempo.

De Santo a Pai Natal

As histórias e tradições sobre São Nicolau tornaram-se reservadas após a reforma no século XVI, no norte da Europa. Entretanto, a tradição de entregar os presentes para as crianças no Natal tinha de ser mantida:

  • Em Inglaterra ele tornou-se St. Christmas, Father Christmas ou Old Man Christmas, um antigo personagem das histórias medievais do Reino Unido e algumas regiões do norte europeu.
  • Em França, ele era chamado de Père Nöel.
  • Noutros países, como exemplo Áustria e Alemanha, quem entregava os presentes era um bebé de cabelos dourados, com asas, simbolizando o recém-nascido Jesus e que recebeu o nome de Christkind.
  • Derivado do Christkind, era conhecido como Kris Kringle nos Estados Unidos. Com o passar do tempo, os colonos holandeses chegaram na América com antigas histórias de São Nicolau na bagagem, e tanto ele quanto Kris Kringle se tornaram Sinterklaas. Tempos depois, como os americanos dizem, Santa Claus.
  • Na língua portuguesa Pai Natal em Portugal, e Papai Noel no Brasil.
Com o passar do tempo, o Pai Natal inglês e o americano tornaram-se cada vez mais semelhantes e agora são o mesmo.

A redescoberta das antigas histórias


No período de 1800, os escritores, poetas e artistas redescobriram as antigas histórias de São Nicolau e a sua popularidade tornou-se revigorada.

Em 1821, em Nova York, um poeta anónimo escreveu Old Santeclaus with Much Delight, no qual foi descrito o São Nicolau (Pai Natal) dentro de um trenó sendo puxado por uma rena. Esse poema foi incluído no livro The Children’s Friend: A New-Year’s Present, to the Little Ones from Five to Twelve, com 8 ilustrações, e foram as primeiras imagens de Santa Claus.


Em 1823, o poema A Visit from St. Nicholas ou ‘T’was the Night before Christmas‘ foi publicado e ficou famoso. No poema é descrito que havia 8 renas e que São Nicolau nomeou cada uma delas. A popularidade veio em 1949 com a música Rudolph the Rednosed Reindeer.

E qual a relação entre a Coca-Cola e o Pai Natal?

Muito antes da invenção da Coca-Cola, o nosso protagonista possuía roupas vermelhas por ser um bispo. Durante a época Vitoriana, ele usava, além das vermelhas, roupas verdes, azuis e pele castanha.

Em 1863, a primeira ilustração de St. Nicholas/St. Nick, de Thomas Nast, foi publicada pela revista Harper’s Weekly – na qual ele vestia uma roupa de listas e estrelas (seria um Pai Natal com vestes da bandeira americana, afinal, Thomas Nast foi um caricaturista e cartunista famoso do século XIX, reverenciado pelas charges de política americana).


Ele continuou desenhando o Pai Natal durante os 20 anos seguintes, até que as suas criações mostravam o desenvolvimento da barriga grande, a roupa vermelha e branca e ele foi inspirado pelas antigas histórias do Pai Natal, pelo poema A Visit from St. Nicholas e as ilustrações de Old Santeclaus with Much Delight.

Em 1882, a mesma revista publicou a imagem mais famosa do Pai Natal criada por Nast: um velho com uma enorme barriga vermelha, segurando muitos brinquedos nos braços e fumando cachimbo. A imagem ficou tão popular que muitos artistas passaram a desenhar o Pai Natal com veste branca e vermelha a partir de 1900.



Em 1931, a Coca-Cola usou o Pai Natal pela primeira vez nos seus anúncios. Haddon Sundblom aproveitou a imagem de Nast e deixou-o mais gordo, alegre e substituiu o cachimbo por um copo de Coca-Cola. Pronto! Nunca mais a Coca-Cola deixou o Pai Natal sossegado desde 1931.

Em 1995, a empresa colocou nos seus anúncios de tv o camião de Natal coberto com luzes e com a clássica Coca do Pai Natal nas laterais, tornando-se parte da famosa história de Natal.



Enfim…

Para uns, a morada do Pai Natal é no Pólo Norte, para outros é na Lapónia, norte da Finlândia. Entretanto, o lúdico é que importa, pois o mundo concorda que ele viaja pelo céu, num trenó puxado por renas, que desce pela chaminé e deixa presentes para as crianças em frente à árvore de Natal, nas meias ou em sacolas próximo à lareira.

E você, acredita no Pai Natal?


Fontes: Coca-Cola Company; Why Christmas; Who is St. Nicholas?; Velhos Nicolinos; Guimarães Turismo