Dia do macaron
Fonte: Revista Veja São Paulo

Hoje é dia internacional do docinho mais delicado e delicioso do mundo: o macaron! 

Não, não é macarrão (esse, nós acrescentamos molho de tomate, manjericão e queijo parmesão). 

É macaron (um doce típico francês que derrete na boca e é divinamente dos Deuses!!). Em outras palavras, são duas bolachas redondas de farinha de amêndoas unidas por um recheio. 

Ou seja, pensa num suspiro (clara de ovo e açúcar) bem macio à base de farinha de amêndoas, com média de 3 a 5 cm de diâmetro e que vai ao forno para ficar crocante. Depois de assado, acrescenta o recheio. 

Aliás, quem não gostar de macaron, nem continue a leitura e vai se jogar do pé de alface imediatamente!!! Maaaaaas, se você for uma pessoa curiosa... deixo ficar! 😂


Qual a origem?

Dia do macaron
Fonte: gastronomos.fr

Ao que tudo indica, os árabes desembarcaram na Sicília, Itália, em 827, introduzindo muitas novidades tecnológicas e alimentares. Isso inclui os doces à base de várias nozes, como os fālūdhaj e lausinaj, doces de pasta de amêndoa envoltos por uma massa.

Claro que a cultura muçulmana esparramou-se pela Europa e tanto na Sicília quanto em Toledo, Espanha, os fālūdhaj e lausinaj foram adaptados ou transformados em outras receitas de sobremesas, como o marzapane e calscioni. Em 2011, Dan Jurafsky apontou em Macarons, Macaroons, Macaroni que

o livro de receitas de 1465 do Maestro Martino nos diz que o marzapane era originalmente uma embalagem de massa recheada, com uma mistura de pasta de amêndoa, açúcar, água de rosas e, às vezes, clara de ovo. Enquanto a modernização da palavra maçapão significa o recheio, o nome originalmente descrevia o invólucro; marzapane vem da palavra árabe mauthaban que significava os potes em que o doce vinha. Caliscioni era uma torta feita por camadas de pasta de amêndoa sobre uma camada de massa doce feita com açúcar e água de rosas (tradução nossa).

Já a revista online Culturally Ours, diz que os macarons tiveram início nos mosteiros venezianos desde o século VIII e que os doces eram conhecidos como 'umbigo de padre' pelo formato da massa.

Jurafsky também aponta que as massas italianas que tanto amamos foram desenvolvidas na Sicília e que as massas confeccionadas com trigo-duro ocorreram em 1154. A Sicília tornou-se um polo de referência em massas, exportando-as para o mediterrâneo afora. Ou seja,

as tradições da massa e da pastelaria de amêndoa fundiram-se na Sicília, resultando em alimentos com características de ambas. As primeiras massas eram adocicadas e podiam ser fritas, assadas ou cozidas. Há muitas receitas deste período, tanto em versão salgada de queijo quanto em versão doce de pasta de amêndoa, que era adequada para a Quaresma, quando carne e queijo não podiam ser consumidos. O caliscioni, com versão, de amêndoa e queijo, é o ancestral do calzone que conhecemos (tradução nossa — Jurafsky, 2011).
Mais ou menos em 1279, apareceu a palavra maccarruni que derivou para as palavras macarrão, macaroon e macaron. Tudo indica ser de origem árabe e modificada pelo dialeto italiano. Na Síria esse doce é conhecido por Louzieh, que significa amêndoa. Parece que foi no período renascentista que surgiram as primeiras receitas.

A pasta de amêndoas era o ingrediente principal dos doces italianos e, através dela, inventaram um biscoitinho simples chamado maccherone, se tornando muito popular entre a elite italiana. Com a expansão do mercado marítimo, os doces de amêndoas italianos, bem como as suas pastas, também chegaram à França, Espanha e Inglaterra a partir de 1500.

Made in France

Em 1533, o macaron cruzou a fronteira francesa com a italiana Catarina de Médici. Ela casou-se com o rei da França, Henrique II, e o seu chef de cozinha passou a preparar os docinhos italianos na corte francesa.

O macaron da realeza

Em 1552, François Rebelais é o escritor francês que menciona e descreve o macaron pela primeira vez: pequena massa redonda com amêndoas. Com isso, passou a ganhar fama entre os chefs por toda a França, onde cada um se esforçava para "tradicionalizar" o doce adaptando à sua receita.

Parece que o macaron também esteve presente no casamento do Duque de Joyeuse, em Ardeche, no ano de 1581. Apareceu, em 1600, nas feiras e festivais sagrados de Montmorillon, e no casamento de Maria Teresa com o Rei Luís XIV. Esse mesmo rei, em 1682, ofereceu macarons aos convidados durante a sua recepção em Versalhes.

Nota-se que o macaron não era um produto comercializado, mas era exclusivo da realeza até 1789 quando ocorre a queda do império.

Dia do macaron
Fontes: H-E-B Macaron / Confiserie Sprüngli

A popularidade do macaron

Em 1792, na cidade de Nancy, no nordeste francês, duas freiras assavam e vendiam macarons para manter o seu sustento durante a Revolução Francesa. Os seus doces (sem recheio naquela época, mas crocantes por fora e macios por dentro) fizeram tanto sucesso que ficaram conhecidas como as Irmãs Macaron

A ideia de juntar duas bolachas de macaron com geleias ou marmeladas cheios de especiarias e licores, ocorreu a partir de 1830. Outra publicação em 1873, Alexandre Dumas apresenta duas receitas de macaron com amêndoas amargas e doces no seu Grand Dictionnaire de Cuisine.

Em 1890, o confeiteiro parisiense adaptou a massa para receber vários recheios. Pierre Desfontaines, primo em segundo grau do fundador da La Maison Ladurée, começou a intercalar creme de manteiga, geleia, ganache e compota entre os biscoitos. 

Entretanto, foi a partir do século XX que La Maison Ladurée aperfeiçoou o macaron para ser o que conhecemos hoje: muitas cores, recheios e sabores. O resultado foi sucesso imediato, pois o francês é chique como ninguém na gastronomia.

Em 1952, a cidade de Nancy homenageou Les Soeurs Macarons ao nomear a parte da Rue Hache onde o genuíno Nancy Macarons foi criado. Desde essa data, o macaron das duas freiras faz parte do património gastronómico da cidade.

Macarons em...

Índia — chamado Thoothukudi em Tamil Nadu, tem a sua variação feita com castanha de caju em vez de amêndoas. A receita foi adaptada desde os tempos coloniais.

Dia do macaron
Fonte: Cook with Kushi - Thoothukudi
Japão — conhecido como makaron, há uma adaptação com a farinha de amendoim e usado como wagashi (um confeito confeccionado com ingredientes extraídos das plantas).

dia do macaron
Fonte: Mimi Claire - Macaron de chá-verde com recheio de feijão azuki.

Estados Unidos — vários sabores como hortelã, espumante de pêssego, pistache, manteiga de amendoim e geleia, abóbora, pipoca e caramelo salgado. 

dia do macaron
Fonte: Dyxie Crystals - Peanut butter and Jelly macarrons

Suíça — conhecido como Luxemburgerli, esse doce possui duas bolachas feitas de merengue de amêndoas e recheado com creme de manteiga. O tamanho é menor que o macaron original.

O trabalho dessa menina suíça é impressionante! O Insta dela tem um macaron mais lindo e original que o outro!

dia do macaron
Fonte: Revista Sapo / Kim Delia Keller — Instagram: @kims_bachstuebli

Harmonização

É aqui que a brincadeira fica boa, porque você certamente vai descobrir uma explosão de sabores! 

Você pode optar pelos licores, vinhos doces ou espumantes, por similaridade. Tudo vai depender dos sabores e a intensidade de açúcar dos macarons.

dia do macaron
Fontes: Dreamstime / Kitchen 335

Dica: harmonizar espumante com morango já é coisa obsoleta. Eu combinei macaron de frutos vermelhos com um Chandon Rosé, de avelã com Vinho do Porto Tawny, no mínimo 10 anos (que possui aromas de frutos secos provenientes do envelhecimento do vinho).

Receita

Comprometo-me com você a escolher uma receita que seja fácil de fazer em casa, porque o segredo de um bom macaron está no forno. Assim que fizer, terá um post exclusivo para isso. Combinado?   

Então, "bora" adoçar a vida? 

Leia também: É Beef Wellington, Boeuf en Croute ou Steig Wellington?

 

Fontes: Macarons, Macaroons, Macaroni; Culturally Ours; Gastronomos; The Culture Trip.