17.12.21

Observação: Escrevi este artigo para a Revista Vitae em dezembro de 2021. Por qualquer motivo, em 2023, a revista já não se encontra mais online, então, para não perder o conteúdo e manter meu portfólio (salvo em PDF), postei aqui. Qualquer dúvida, por gentileza, entre em contacto. Boa leitura!

 


Bora para o portão de embarque?

Todo mundo quando pensa em Natal, vem à mente a magia das decorações, das luzes, da neve e seus bonecos, das cidades invernais do Hemisfério Norte. Até os filmes de Natal raramente abordam o tema num país tropical.

Hoje viajaremos para 2 países que moram no meu coração: Austrália e Brasil. Eu sou brasileira com profundas raízes italianas por causa dos meus ascendentes, porém também morei na Austrália para aprofundar meus estudos.

Foi a primeira vez que sozinha me aventurei do outro lado do mundo. Eu mesma tive uma identificação muito rápida com os australianos: são alegres, festeiros, simpáticos (adoram conversar), amáveis, atenciosos, prestativos e calor humano. Sem dizer que por estar localizado no Hemisfério Sul, as estações do ano são as mesmas do Brasil.

Foi o primeiro fim de ano longe da família e totalmente multicultural com pessoas de várias nacionalidades. No entanto, sentia-me muito em casa. Nessa experiência de vida, fiz laços de amizade que continuam fortalecidos há 21 anos!

Bora para o portão de embarque?


Fonte: Istockphoto

Atenção senhores passageiros, última chamada: Austrália!

Terra dos cangurus e dos coalas, posso dizer que esta ilha é abençoada com um céu azul e muito sol. Dependendo da localização, as temperaturas variam entre 25° e 38° C, mas no verão, as temperaturas diárias ficam entre 30° e 40° C no continente.

A Tasmânia é um pouco fria porque é um Estado insular isolado próximo da costa sul australiana. Embora possua uma significativa extensão territorial, a Austrália tem uma população que fica em torno dos 25 milhões de habitantes, englobando uma miscigenação étnica com origens europeias, Oriente Médio, Vietnã, China, Japão, Tailândia, Américas do Sul e do Norte.

Assim, você pode imaginar que a Austrália não só possui cores, costumes e rituais festivos distintos de fim de ano, como também aprecia a sua diversidade cultural.

Tradições de fim de ano

O Natal chega com o final do ano letivo australiano. Ou seja, as férias de verão vão desde meados de dezembro até ao início de fevereiro.

Fonte: Real State/Api.news/Bp.blogspot/Rota do Canguru/Oyster World Wide

Tudo indica que a primeira celebração de Natal australiana ocorreu em 1788 em Sydney Cove, a 25 de dezembro. O governador Arthur Phillips presidiu a tradicional refeição de Natal junto de seus oficiais com um brinde leal ao Rei George III.

Até mais ou menos 35/40 anos atrás, as tradições de Natal ainda tinham influência anglocéltica, pois a referência inglesa mantinha a tradição do peru assado e pudim cozido a vapor sob um calor de mais de 35°C.

Conforme o tempo foi passando, devido ao fluxo de migrantes estrangeiros, as celebrações de Natal foram diretamente influenciadas pela etnia das famílias envolvidas. Ou seja, os jantares tradicionais foram substituídos por almoços familiares em espaços abertos como no quintal de casa, nas esplanadas, piqueniques em parques, jardins e até na praia.

Na Austrália não há ceia da véspera de Natal, este é mais um dia comum. O dia de celebração é no próprio 25 de dezembro.

O que realmente importa é estar entre familiares e amigos, partilhar o amor e a amizade. Contudo, mantém-se a tradição de trocar os presentes mas somente após o almoço.

Pai Natal

O Pai Natal troca de roupa quando chega na Aussieland (Aussie ou Ozzie é uma gíria australiana que descreve os próprios australianos, a mesma conotação para o brazuca (zuca) ou portuga (tuga) referindo-se aos brasileiros e portugueses).

É muito comum no dia 25 de dezembro vê-lo usar fato de banho, gorro e prancha de surf. É claro que é uma brincadeira! Entretanto, quem opta por celebrar o almoço de Natal de frente para o mar, vai encontrar vários surfistas assim.

Religiosidade

Eles também consideram o Natal um tempo para lembrar o significado espiritual e o nascimento de Jesus. Há quem começa o Natal indo à missa à meia-noite. 70% dos australianos são católicos, anglicanos e luteranos.

Eu tive contato direto com os Mórmons, pois os meus vizinhos eram 2 missionários fofos! Eles eram de uma luz incrível e nunca tentaram converter-me. Fui à igreja com eles, conheci a religião e, para minha surpresa, descobri que a maioria dos funcionários que trabalhavam na escola onde eu estudava eram mórmons, pois todos estavam lá. Quando nos vimos, foi mesmo um momento de muita alegria e celebração.

Fanáticos por luzes

As tradições decorativas envolvem a família toda. As crianças participam ativamente na montagem da árvore de Natal, penduram as meias na lareira (mesmo que estas não sejam acesas em pleno verão, mas há a influência da tradição), ajudam na confecção das grinaldas para a porta de entrada da casa e escrevem cartas para o Pai Natal.

Os australianos também decoram o lado externo e jardins de suas casas. É um show de luzes e de criatividade. Há concurso da melhor decoração natalina em algumas cidades ou freguesias, então os moradores esmeram-se realmente.

Mesmo sem concurso, o australiano gosta de sair para ver a decoração dos seus vizinhos e que a sua também seja vista. Dependendo da localização, as ruas ficam tomadas por pessoas que saem a pé para
admirar as luzes e decorações de Natal.

Eventos tradicionais

Em cada capital de seus Estados, há um evento de canções de Natal conhecido como Carols by Candlelight, mas o mais famoso é o de Melbourne, que leva uma multidão para a apresentação e é transmitido pela TV em rede nacional. É tão famoso que várias celebridades já participaram cantando nesse evento.

Em vilas, cidades e escolas também realizam as suas próprias canções e apresentações de Natal à luz de velas com bandas e coros locais. Na maioria das vezes, as letras das canções sobre neve e inverno são substituídas por palavras australianas ou por canções de Natal originais da Austrália.

Boxing Day

O Boxing Day é um feriado nacional no dia 26 de dezembro. Muitos eventos desportivos são realizados nesse dia.

Se o futebol é a paixão nacional dos brasileiros, o críquete é a do australiano. Nesse feriado ocorre um jogo de críquete em Melbourne, conhecido como Boxing Day Test, entre a equipe nacional da Austrália e outras equipes que estão em jogos pelo país.

A partida começa no dia 26 de dezembro e pode durar até 5 dias. Entre 1999 e 2007, a equipa australiana venceu todas as partidas. Fico aqui imaginando como isso os levou à loucura!


Outro evento importante desse feriado é a Rolex Sydney Hobart Yatch Race, uma corrida de barcos que percorre uma distância de 630 milhas náuticas entre o porto de Sydney a Hobart, na ilha da Tasmânia.

Tradicionalmente, 6 dias era o tempo que os barcos demoravam para chegar a Hobart, mas agora, o mais rápido chega ao fim em menos de 2 dias. A TV está recheada de transmissão de eventos desportivos no Boxing Day.

É também neste feriado, em várias regiões da Austrália, que as lojas oferecem o seu estoque excedente da pré-venda de Natal a preços reduzidos, quase 80% mais baratos.

Há um dado curioso: 25 e 26 de dezembro, respectivamente Natal e Boxing Day, são feriados públicos. Entretanto, se esses mesmos dias caírem no final de semana, sábado e/ou domingo, os feriados passam a ser nos dias úteis seguintes, tornando-se feriados substituídos.

História sobre o Boxing Day

Tradicionalmente era um dia para os empregadores ingleses darem um bônus em dinheiro, sobras de comida ou roupas em desuso para os seus funcionários. Ou para os senhorios darem ferramentas agrícolas ou sementes para o ano seguinte aos seus inquilinos.

Tais presentes eram apresentados dentro de uma caixa e por isso, muitos acreditam que esse seja o motivo pelo qual 26 de dezembro seja conhecido como Boxing Day.

Já outros preferem acreditar que a origem do nome está relacionada à caixa na qual os paroquianos colocavam as doações para a igreja. Nesse mesmo dia a caixa era aberta e o dinheiro distribuído aos pobres da paróquia.

Gastronomia

Fonte: Twister Sifter

Por causa do clima quente, o menu de Natal é mais leve com muitos frutos do mar – o camarão é um dos pratos principais! É claro que isso varia conforme os gostos gastronômicos de cada um.

A refeição de Natal também pode conter fiambre, presuntos, frango ou pato ou peru frios (receitas que servem frias mesmo!), massas e grande variedade de saladas.

As sobremesas são bem diversificadas como o tradicional pudim feito no vapor, salada de frutas, gelados, bolo de frutas, biscoitos, chocolates e a famosa pavlova que não pode faltar.

É muito comum cada convidado aparecer para almoçar com um prato doce ou salgado e bebida. Assim, cada um leva o que gosta de comer e beber. Acredite, a mesa fica farta e não sobrecarrega o anfitrião.

No meu tempo Aussie, todos davam uma ajudinha na hora da limpeza e arrumação da casa. Tudo com muita alegria e animação.

Fonte: Best Recipes
Quer saber como é feita essa delícia? Mãos à obra:

Pavlova
  • 3 claras de ovo,
  • 1 chávena de açúcar branco,
  • ½ chávena de açúcar de confeiteiro,
  • 1 colher (chá) de suco de limão,
  • 500 g de morangos frescos1 ¼ chávena de natas fresca,
  • 1 colher (sopa) de amido de milho,
  • ¼ de chávena de natas fresca.
Preparo: Pré-aqueça o forno a 150°C. Forre uma assadeira com papel manteiga. Desenhe um círculo de 23 centímetros no papel. Uma maneira fácil de fazer isso é desenhar ao redor de uma assadeira de 23 cm com um lápis.

Numa tigela grande, bata as claras em alta velocidade até formar picos suaves. Adicione ¾ de chávena de açúcar aos poucos, continuando a bater. Certifique-se de que o açúcar esteja completamente dissolvido.

Misture o ¼ restante de açúcar com o amido de milho; incorpore levemente o merengue com sumo de limão. Espalhe uma camada de merengue para ajustar o círculo no papel manteiga, com aproximadamente 0,5 cm de espessura.

Com o restante da mistura e ajuda de uma colher, espalhe em torno das bordas para formar uma forma de tigela rasa. Asse a 150°C por 1 hora. Desligue o forno. Deixe o merengue no forno durante mais 30 minutos.

Quando arrefecer, o merengue deve estar duro por fora e ligeiramente húmido por dentro. Numa tigela grande, misture as natas e meia chávena de açúcar de confeiteiro e bata até engrossar. Decore com frutas à sua escolha; morangos são excelentes. A imagem mostra a sobremesa com mirtilos também.

Eu sei que deu água na boca, mas …

… Apressem o passo senão perdemos o voo para o Brasil!

Fonte: Amanhã Austrália

Agora vou contar um pouco de como era o Natal na minha casa, o que não difere muito do restante do país. Farei um mix, ok?


Tradições


Fontes: Receitas de Mãe/Arte e Blog/A Revista da Mulher/Segredos do Mundo/Com Deus

Eu cresci com uma mãe que A-MA-VA o Natal e decorava todos os cômodos da casa com Papais e Mamães Noéis, ou seja, Pais e Mães Natais. Sua animação deixava a casa inteira eufórica para montar a árvore de Natal e a família toda se reunia para isso.

No dia 24, véspera de Natal, vinham os familiares de perto (que moravam na mesma cidade), e no dia 25, chegavam os parentes do interior (tios e primos – família numerosa!).

Uma verdadeira bagunça com muita harmonia, fartura e alegria. Então como você pode perceber, na minha casa, havia a ceia de véspera e o almoço de Natal em família sempre.

Árvore e luzes de Natal

A árvore de Natal de casa era natural, pois a minha mãe fazia questão de escolher a mais alta e a mais frondosa. O tempo passou e ela substituiu a natural por uma artificial bem bonita e com mais de 2 metros de altura (parecia de verdade mesmo … e sim, precisávamos de escadinha para enfeitar o topo da árvore).

Do lado de fora, todo o contorno da casa era de luz de Natal, o jardim decorado com renas, estrelas e Pai Natal iluminados, e os pinheiros naturais, todos iluminados também.

Era tradição nos sentarmos em frente a árvore de Natal à noite, somente com suas luzes acesas (ou se a noite estivesse muito abafada, íamos para o lado de fora da casa) para ficarmos olhando hipnotizados os pisca-piscas coloridos e conversando durante horas.

Uma coisa temos que concordar: esta é a época mais mágica do ano! O brasileiro também adora ver as luzes de Natal pela cidade. Por exemplo: na Avenida Paulista, em São Paulo, por toda a sua extensão (quase 3 km) há iluminação de Natal.

O trânsito fica caótico pelo número de pessoas a pé e pelos automóveis que reduzem a velocidade para observar as decorações dos edifícios residenciais, estatais, comerciais etc. Isso não ocorre apenas em São Paulo, é no país todo!

É tradição dos brasileiros colocarem os presentes embaixo da árvore antes da ceia de 24 ou do almoço de 25 de dezembro.

Fonte: Panrrotas

Presépio

O Brasil é uma miscigenação de várias etnias e, como uma ex-colônia portuguesa, possui muitos costumes natalinos oriundos dessa herança. Um deles é o presépio.

A palavra origina-se do latim praesepium e significa estrebaria, curral, lugar para guardar os animais. No sentido religioso, é o local onde Jesus dormiu sobre uma cama de palha pela primeira vez em Belém.

O presépio é muito comum no nordeste do Brasil e foi introduzido no século XVII em Olinda, Pernambuco, pelo frade franciscano Gaspar de Santo Agostinho.

Primeiramente, o presépio era montado apenas dentro das igrejas, mas com o passar do tempo, a tradição entrou para a casa dos católicos e hoje este cenário pode ser admirado em estabelecimentos comerciais, empresas e locais públicos.

Religiosidade

Os católicos assistem à missa da meia-noite de 25 de dezembro conhecida como a Missa do Galo. A missa tem esse nome porque o galo anuncia o dia que se aproxima e tem uma hora de duração. Há aqueles que comparecem na igreja para a missa do dia de Natal no final da tarde.

Ceia e troca de presentes

Na minha casa os preparativos da ceia começavam logo cedo e assim ainda é para muitos brasileiros. Há quem prefira não ter trabalho na cozinha e encomenda a ceia inteira de algum restaurante ou cozinheiro especializado. Outros combinam levar um prato doce ou salgado e bebidas (como os australianos).

Muitas famílias mantêm a tradição de cear à meia-noite e em seguida, a troca de presentes. Contudo, quem tem crianças correndo pela casa, acaba abrindo os presentes antes mesmo da refeição e comendo mais cedo. Creio que nenhum adulto aguenta a ansiedade dos pequenos.

Falando em troca de presentes, há quem opte pelo amigo secreto (ou oculto). Uma brincadeira muito divertida na qual, antes de entregar o presente, cada pessoa tem que falar características de seu amigo sem dizer especificamente quem é.

Esse mistério é que garante a diversão da brincadeira. Quando adivinham (ou não), há a entrega do presente e quem o recebe faz a mesma coisa. Este é o momento de curiosidade que chega ao auge para saber quem tirou quem.

Essa brincadeira também acontece nas confraternizações de fim de ano das empresas onde os colegas de trabalho se reúnem num almoço ou jantar para finalizar mais um ano de empreitada juntos.

Gastronomia

Fonte: Twister Sifter

Na ceia brasileira não falta peru, tender (um presunto fumado servido com frutas em calda, como pêssego ou ananás), farofa, salpicão, rabanada, arroz com (ou sem) uvas passas brancas, panetone (de origem italiana que pode ser de frutas cristalizadas ou de chocolate), frutas da estação e frutos secos.

E com o calor que faz nesta época do ano, nunca falta cerveja na mesa do brasileiro! Agora, a receitinha do salpicão para fazer em qualquer momento do ano.

Salpicão para os brasileiros não é um enchido de porco, é uma salada de frango muito tropical e agridoce (e só agora que me dei conta que nunca fiz aqui em Vila Real, por que será?!).

Fonte: Na Minha Panela

Salpicão de Frango
  • 1kg de peito de frango desfiado e temperado
  • 1 maço de alho francês médio picado
  • ¼ de chávena de aipo picado
  • 2 colheres (sopa) de azeite
  • ¼ de chávena de uva passa
  • 1 cenoura média ralada
  • ½ maçã picada
  • Sumo de ½ limão
  • 1 colher (sopa) de mostarda
  • 3 colheres de sopa de maionese
  • Batata palha
  • Sal e pimenta a gosto
Preparo: faça o refogado do alho francês e o aipo com azeite até ficarem macios. Espere arrefecer. Num refratário, acrescente o refogado, o frango, a cenoura, a maçã, a uva passa e o sumo de limão. Finalize com a mostarda e a maionese, e misture bem até que todos os ingredientes estejam envolvidos nos molhos. Para finalizar, acrescente o sal e a pimenta e sirva com batata palha (aconselho colocar a batata no prato, assim não perderá a crocância quando envolver a batata com o salpicão).

E você, o que não pode deixar de fazer nas celebrações de Natal? Conte-me!

Em tempo: você já leu sobre as Tradições de Natal da Rússia? Não! Então aproveita esta dica de leitura enquanto não chamam para o embarque da nossa próxima viagem.

Até logo!


Fontes: Why Christmas; Rota do Canguru, Time and Date; How the Stuff Works; Captain Cook; All Recipes; Na Minha Panela.




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