oh my god

Oh my Goddess!

Mudamos para Portugal por causa do mestrado. Há três anos não existia mestrado em enologia no Brasil e meu marido queria aprimorar seu conhecimento na área. Como no Brasil eu já buscava algo no jornalismo gastronômico, pensei que em terras lusas também encontraria algo específico sobre o assunto, mas, infelizmente, a universidade não tinha nenhum curso voltado para a comunicação gastronômica. Uma vez que no Brasil a Cultura também é estudada em jornalismo e em gastronomia, percebi que havia a possibilidade de agregar o tema em Ciências da Comunicação (mais voltado para rádio, tv) ou Ciências da Cultura (que incluía saídas profissionais como jornalismo e crítica culturais). Assim apliquei a minha candidatura para a segunda opção e dois anos mais tarde, apresentei minha dissertação enfatizando a gastronomia com abordagens históricas, multiculturais e sociais sob a influência da globalização.
  

E agora?

Uma inquietação começou seis meses antes de terminar o mestrado: tá, me torno mestre e daí? Posso ser docente para curso superior em Portugal? Sim e não! Sim, se a instituição for privada e não, se for pública (a não ser que você seja doutora!). Então comecei a pesquisar cursos de doutorado voltado para a comunicação gastronômica e quase caí da cadeira: investimento financeiro infinitamente acima do esperado tanto dentro quanto fora de Portugal – e descobri que o valor de doutorado da minha universidade estava equiparado com o do mestrado. Novamente me candidatei para cultura já que não havia o curso em comunicação.
 
Eeeeee, diploma de mestre na mão e disparo de currículos: receber salário em se tornou uma das prioridades. Trabalho informal é o que mais tem (nada contra com quem trabalha em cafés), mas, depois dos quatro ponto cinco, a intenção não é gastar tempo e energia com algo que não acrescentará nada para o meu conhecimento e para a tese de doutorado, que não me trará desafios e investigações. Ah, falando nelas, as bolsas de investigação para mestres são para a área da saúde, tecnologia, informação e todas as engenharias, para a minha não tem!

Veio o maldito vírus e a coisa degringolou.

Onde eu quero chegar: oportunidade de trabalho tem sim senhores ... só que não é bem assim! Há mais de um ano eu envio currículo para vaga que pede a licenciatura (eu sou mestre, um grau acima) ou mestrado e quando me respondem, pedem o diploma da minha graduação reconhecido em Portugal (que para reconhecer é só uma bagatela de 600 – equivalente a seis meses de uma pós na minha universidade). Então, em uma conclusão com os meus botões:
 
– Espera um pouco! Se o meu diploma de mestre, que já está dentro dos padrões europeus, não serve e/ou não substitui o documento de licenciatura, para o quê me serve o grau/título adquirido? Para aprimorar o currículo? Ou talvez para facilitar o acesso ao doutorado? Aaaahhhh, mas eu já sou doutoranda!!!!
 
– Mas você pode enviar para os cursos profissionalizantes, para o ensino privado... Ops, você tem o certificado de competências pedagógicas, o CCP?
 
– Já mandei, nunca responderam. Não, preciso desse CCP? Eu era professora concursada no Brasil, fiz a licenciatura...
 
– É, mas seu diploma não foi reconhecido aqui, não está nos padrões europeus, então tem que fazer o curso, ONLINE, para ter esse certificado. Se não tiver, não pode dar aula em lugar nenhum, mesmo com título de mestre.
 
– Hummmm... É caro?
 
– É, em torno de 200, mas quem tem doutorado não precisa do CCP.
 
– Então, gasta-se menos com o curso do CCP, válido em território português, do que para reconhecer o diploma, válido na Europa inteira.

Ou seja...

Se antes da pandemia já era complicado, durante ... pffff, nem se fala! Doutorando só recebe para investigar se concorrer à bolsa de estudos (a qual não fui contemplada – poucas vagas para muitos candidatos), licenciatura e mestrado em Portugal é praticamente um ensino básico do curso superior: todo mundo faz! Na área acadêmica, quem se destaca mesmo é o doutor(ando) que já tem artigos publicados em revistas especializadas, que vive de e para a investigação. Fora da academia: saúde, TI e engenharias.
 
Aqui deixo um barulho para quem estava querendo dormir: a realidade descontenta e nos coloca à prova todos os dias para refletir, sacudir, rir de nervoso, reclamar de angústia e não deixar a peteca cair. Nada é em vão nessa vida... se até a uva passa, essa situação também vai passar (que seja logo)!